17 novembro 2010

Instantes

Texto atribuído a Jorge Luiz Borges – escritor argentino

Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente 
de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, 
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo.

15 novembro 2010

O Contrato de Casamento

Outro texto de Stephen Kanitz. Após lê-lo, lembrei de uma frase que ouvi em um filme. Na cena, o marido fala para a esposa: “Eu não sou perfeito e você também não é perfeita. O importante é sermos perfeitos um para o outro". Boa leitura e bom casamento a todos.

Na semana passada comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador: "Coisa rara hoje em dia". De fato, 40% de meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato.

Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro.

Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas.

As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento.

O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm.

Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda(…). Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Editora Abril, Revista Veja, edição 1873, ano 37, nº 39, 29 de setembro de 2004, página 22

13 novembro 2010

O Segredo do Casamento

Ultimamente, estou sem muito tempo para escrever neste blog. Para não deixar meus milhares de leitores no vácuo, venho publicando alguns textos que gosto e que gostaria de compartilhar. O texto de hoje é de Stephen Kanitz, administrador e articulista de Veja, e fala sobre o casamento. Vale a leitura.

Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.

Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.

Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento - a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.

O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.

Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?

Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.

Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.

Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Editora Abril, Revista Veja, edição 1922, ano 38, nº 37, 14 de setembro de 2005, página 24

11 novembro 2010

Sucesso

Discurso de Nizan Guanaes, publicitário, para uma turma da FAAP da qual era paraninfo.

Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.

E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo." E ela responde: "Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. Meu segundo conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega viver como homens.

Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Que era ficção, mas hoje é realidade, na pessoa de Geraldo Bulhões, Denilma e Rosângela, sua concubina. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito.

É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.

Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não sente-se e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios.

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta.Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso.

09 novembro 2010

Atrasado pela própria natureza

Prof. Dr. Marcos Chagas – Geólogo – Professor da UNIFAP (do site www.correaneto.com.br)
Alerto a sociedade amapaense sobre uma ação geopolítica mundial organizada por ONGs internacionais com sede no primeiro mundo, que vem transformando o Amapá e áreas próximas numa região intocada sob o discurso da preservação da biodiversidade, que eles acham ser a proposta que nós, amapaenses, devemos acreditar e apoiar para tornarmo-nos “aptos a receber recursos internacionais” e ajudar a salvar o planeta.
O problema é o excesso de terras amapaenses transformadas em áreas protegidas e a história tem demonstrado o quanto é necessário compartilhar responsabilidade pela preservação do planeta e não apenas imputar os custos da preservação para os pobres enquanto eles, os ricos do primeiro mundo, ficam com os benefícios. “É um absurdo esperar qualquer sacrifício em direção à sustentabilidade no Sul (países em desenvolvimento) se medidas similares não tiverem sido tomadas no Norte (países desenvolvidos)”, critica Herman Daly, ex-economista da área ambiental do Banco Mundial.
Faço esse alerta com a experiência de quem trabalhou no Ministério do Meio Ambiente por quatro anos; coordenou a criação de duas unidades de conservação de uso sustentável no Amapá (APA do Curiaú e RDS do Iratupuru – essas categorias não expulsam as populações locais); tem especialização em áreas protegidas nos EUA, com visita ao Parque de Yellowstone (que recebe 3 milhões de turistas por ano); viajou a África duas vezes para conhecer o modelo de Parques que o primeiro mundo implantou por lá; conhece o Amapá de ponta a ponta e outras qualificações que não me envaidecem.
Deixo claro que não sou contra a preservação. Sou contra o fato de tratarem a preservação dissociada da realidade social local, traduzida em isolar as populações do acesso aos recursos da natureza e de usar o discurso do “bom selvagem” para não permitir que empresas façam investimentos no Amapá.
Também estou convencido de que não se pode querer transformar um cidadão desassistido de políticas públicas de saúde, educação e renda digna em preservacionista. Aí está o problema. Quais são então as alternativas que os preservacionistas da natureza intocada apresentam para a melhoria da qualidade de vida da população do Amapá?
É evidente que ser adepto do apelo preservacionista gera status político e alguns falsos aplausos em eventos internacionais, como aconteceu com o Governador Waldez, em Durban/África do Sul, em 2003, no Congresso Mundial de Parques, quando anunciou a criação da Fundação Tumucumaque de Preservação da Biodiversidade do Amapá. Alguém conhece?
Desconheço alguma área de proteção integral no Amapá que tenha proposta de acesso e uso dos recursos naturais pelas pessoas. O reconhecimento pelas instituições preservacionistas de que essas áreas não geram benefícios tangíveis para as populações locais é mais digno do que prometer que um dia teremos o mesmo desfrute que têm os norte-americanos no Parque do Yellowstone ou nos inúmeros parques que existem por lá.
Tente visitar um Parque Nacional no Amapá ou defender a permanência de populações que vivem há tempos nessas áreas, como a Vila Brasil no Parque do Tumucumaque. Reúna os amigos e vá pescar na região dos lagos da Reserva Biológica do Lago Piratuba. O resultado é a prisão, sem direito a fiança.
O Amapá tem 70% de seu território transformado em áreas protegidas e mais 10 quilômetros em volta dessas áreas consideradas zona de amortecimento. Resta menos de 30% do Amapá para um possível processo de ordenamento territorial negociado. Esses menos de 30% são a maioria de ecossistemas de cerrado, que apresentam restrições tecnológicas para muitas atividades econômicas e não ofertam mobilidade locacional para atividades de mineração, geração de energia de fonte hídrica, manejo florestal sustentável, etc.
Para ser mais direto, o Governador eleito do Amapá governará em menos de 30% de áreas de cerrado. Qualquer atividade econômica a ser desenvolvida no Amapá, o Governador terá que pedir permissão aos preservacionistas. Isso se não encontrar um “bagre” pelo caminho, plagiando Lula ao criticar a ação dos preservacionistas que tentaram barrar a construção do complexo hidrelétrico do rio Madeira, empreendimento em processo de implantação em Rondônia com responsabilidade socioambiental fruto da maturidade política das instituições públicas e privadas.
Infelizmente, devo afirmar que o preservacionismo tornou o Amapá inviável para investimentos econômicos que necessitem manejar recursos naturais, mesmo que se cumpra todas as exigências legais e se adote procedimentos de completa transparência no processo de licenciamento ambiental. Quais são as alternativas?
Para aqueles que acham que isso é apenas uma crítica de um amapaense, de pensamento subdesenvolvido, que não merece credibilidade, pois santo de casa não faz milagre, sugiro leitura do livro do uspiano Antonio Carlos Diegues, sob o título “A Ecologia Política das Grandes ONGs transnacionais conservacionistas”, que desnuda os verdadeiros interesses das ONGs internacionais e de cientistas preservacionistas em relação aos países tropicais. Outra obra interessante é “Ecologia, elites e intelligentsia na américa latina”, de Marcos Reigota, que descreve a discriminação e o preconceito dos países desenvolvidos com o conhecimento gerado nos trópicos. Ou ainda “Biodiversidade e Conhecimentos Rivais, de Boaventura de Sousa Santos, que nos ajuda a entender os significados da biodiversidade e sua retórica. Para conhecer os argumentos dos preservacionistas, sugiro uma leitura do livro “Tornando os Parques Eficientes”, organizado por John Terborgh e outros.

07 novembro 2010

Eu chorei

senna

Há pouco estava assistindo o Fantástico junto com meu sobrinho de 7 anos enquanto minha esposa dava banho no nosso filho. Passava uma reportagem sobre Airton Senna.

A reportagem mostrou cenas inéditas de Senna e algumas já famosas, como sua primeira vitória no Brasil em 1991, quando ganhou com apenas a 6ª marcha e quase lhe faltou forças para erguer o troféu. O texto e a narração do reporter Pedro Bassan associados as imagens deste meu ídolo me levaram às lágrimas. Meu sobrinho, Marcos, me olhou e riu. Correu até o banheiro onde minha esposa estava:

- Tia Nália, o tio Eldo está chorando por causa do Senna.

Nália, conhecendo o marido que tem, dá um sorriso e não diz nada.

Eu chorei, mesmo. Pela manhã, já havia ensaiado o choro quando vi uma entrevista inédita do Senna que o Esporte Espetacular mostrou, 10 dias antes de sua morte. Mas depois dessa do Fantástico, não aguentei. Chorei.

Gosto muito de esporte, quem me conhece sabe. Sou daqueles que lembra de detalhes, datas e personagens. E poucas coisas me emocionam tanto quanto o esporte. E o que me leva ao choro são as coisas boas. Chorei com a 1ª vitória do Rubinho. Chorei com o tetra, com o penta da Seleção Brasileira. Chorei com o penta e o hexa do Flamengo. Chorei com o ouro do César Cielo nas Olimpíadas. A derrota, não me arranca lágrimas. Não tem graça. O esporte é bonito pela superação. Pela prevalência do melhor, do mais preparado, do mais forte e mais treinado. 

Ver as imagens do Senna me fez lembrar o sentimento que tive quando ele morreu. Demorei a acreditar que aquilo tinha acontecido. Não chorei sua morte. Só me entristeci. Mas durante praticamente um ano, tinha a sensação que ele ainda ia correr, que ainda estava presente na Fórmula 1.

Aproveitei o momento e contei para meu sobrinho quem foi ele. Apesar de ter só 7 anos, ele é vidrado em automobilismo e sempre que pode assiste todas as corridas, como eu. Apesar de não ter visto, ele sabe quem foi o Senna. Mas não tem idéia da dimensão que o Senna teve na geração que o viu correr. Acho que esse filme estréia dia 12 de novembro, eu vou assistir com ele. Mas é bom que eu leve um lenço. Com certeza, vou precisar.

03 novembro 2010

Dilma e o PMDB

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A Dilma se elegeu há menos de 1 semana e já está tendo problemas com o PMDB. O eterno partido situacionista reclama por falta de  espaço no governo da petista.

Isso seria inevitável. Imaginem a voracidade que os cardeais peemedebistas agora que seu partido fez parte da chapa vencedora das eleições presidenciais. A última vez que isso aconteceu foi na eleição de Tancredo Neves, quando Sarney assumiu após morte presidente eleito. Hummm… Deixa pra lá.

Você que elegeu Dilma e sua inexperiência política não pode reclamar. Seu voto deu a ela, ao PT e ao partido de Michel Temer, José Sarney e Renan Calheiros, carta-branca para governarem nosso país. O problema é que os outros vão ter que viver nesse mesmo país. Mas, fazer o que, isso é a democracia.

Vamos esperar para ver a montagem do ministério. Será o primeiro indicativo do poder de influência do PMDB no novo governo. Vocês acham que a Dilma fará como a foto que ilustra esse post? Eu não.

01 novembro 2010

Considerações sobre a eleição no AP

- Camilo Capiberibe teve 170.277 votos dos 420.349 possíveis, ou seja, 40,51% dos possíveis. Isso significa que 250.072 eleitores não quiseram Camilo ou preferiram se abster. É importante que ele tenha em mente isso para governar com sabedoria.

- Lucas Barreto errou com suas alianças de 2º turno, principalmente com Waldez Góes. Mas fica a dúvida: ele ganharia se tivesse ido sozinho? Difícil dizer.

- Não se pode negar a influência da Operação Mãos Limpas nos resultados aqui do Amapá. Acredito que nem Camilo confiava em uma vitória antes da operação da PF.

- Camilo soube ser oposição enquanto era deputado estadual. Ele e Ruy Smith eram as únicas vozes divergentes dentro da Assembléia Legislativa ao governo que termina nos próximos meses. Que agora ele saiba ter oposição e que não use os mesmos métodos que tanto criticou como os acordos políticos excusos e, principalmente, as relações deploráveis com a imprensa.

- Um dia perguntei pelo twitter ao Capi se o poder não cega o político às críticas já que ele tende a ser cerdado por pessoas que o bajulam e que acabam filtrando o que lhe seria desagradável. O pai do Camilo respondeu que esse é um dos piores perigos do poder. Como Camilo usa muito bem o twitter, espero que ele mantenha aberto esse canal para receber sugestões e críticas, e que ele deixe a porta de seu gabinete aberta para a população poder falar diretamente com ele.

- Durante a campanha, o principal ataque a candidatura do PSB era quanto a continuação da “política de família”. Espero que ele tenha isso claro e que monte o governo não com parentes (errando como os outros erraram) mas com pessoas capazes e competentes, independente do sobrenome ou do partido.

- Pelo twitter, ao longo da campanha, cobrei tanto do Camilo quanto da Luciana Capiberibe que as propostas de campanhas fossem disponibilizadas no site do candidato. Acabou a eleição e as propostas não foram colocadas. Considero que isso seja importante para que a população possa cobrar depois. É tão importante quanto a transparência dos gastos públicos.

- Por falar em transparência, espero que a prestação de contas do candidato Camilo seja correta porque segundo o site do TSE, sua coligação gastou somente 23 mil reais até a metade do 1º turno. E pela campanha vista no 2º turno, pela qualidade e quantidade do material, é de se esperar que os valores finais sejam muito maiores que esse. Um bom início da aplicação da Lei da Transparência começa por essa prestação de contas de campanha.

- Espero sinceramente que Camilo não cometa os erros do passado, tanto do governo WG/PP quanto do governo do seu pai. Creio que ninguém quer a “Harmonia” de volta, mas tenho certeza que niguém quer guerras e brigas.

- Para finalizar esse post, desejo boa sorte a Camilo. Apesar de eu ter votado em Lucas por acreditar que seu projeto para o Amapá era melhor, estarei torcendo para que o Camilo mostre que eu estava errado. De minha parte e de todos que não votaram nele, temos que fiscalizar para garantir que nosso Amapá saia maior e melhor do que entrou nessa eleição.

- Boa sorte, governador.

Números da eleição no Amapá

Alguns números da eleição no Amapá:

- Camilo ganhou em 7 municípios: Macapá, Laranjal do Jari, Oiapoque, Vitória do Jari, Itaubal, Ferreira Gomes, Cutias.

- Lucas ganhou em 9 municípios: Santana, Mazagão, Porto Grande, Tartarugalzinho, Calçoene, Amapá, Água Branca do Amapari, Serra do Navio, Pracuúba.

- Proporcionalmente, Lucas cresceu mais em Macapá que Camilo. O candidato do PTB teve um aumento de 70% enquanto o governador eleito cresceu 59% na capital.

- Santana teve um crescimento homogêneo de ambos os candidatos: Camilo cresceu 75% e Lucas, 76%.

- A grande virada foi em Laranjal, onde Lucas teve menos votos que no 1º turno e Camilo cresceu 157%.

- A maior vitória de Camilo foi em Laranjal do Jari (64,40% dos votos válidos) e a maior vitória de Lucas foi no Amapá (64,22%).

- Proporção de votos em Macapá e Santana, juntas, foi semelhante aos outros municípios do interior: Camilo 54% x 46% Lucas (Macapá e Santana) e Camilo 53% x 47% Lucas.